segunda-feira, 2 de junho de 2014

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Gerânio. Nome de flor. Quantos homens possuem nome de flor? Nunca soube dizer. Subia a Borges pensando em como debocharam dele na infância e em como sua noiva se apaixonou pelo nome. "Me apaixonei primeiro pelo nome, depois pelo homem" dizia. Vou pela escadaria ou por baixo? Decidiu ir por baixo. Entre os teatros, a Duque e a vista, preferiu a melancolia, o cheiro de urina e a paisagem triste do misto de tristeza e resignação de quem dorme por entre as lojas de miscelâneas.

Se sentia pequeno e media a tristeza com os dedos. Sua noiva lhe dera última oportunidade após descobrir uma traição. Não queria ter traído. Também não queria que ela tivesse descoberto. Ah, a internet, essa terra de ninguém, onde Gerânio floresceu de qualquer lugar após a dúvida ter sido plantada.

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Gerânio acordou feliz, afinal. Dois meses se passaram desde o dia mais triste de sua vida. Com a vergonha enterrada bem fundo, não se via mais sinais de dor. Pensava em pedir sua noiva em casamento. Na verdade havia economizado para se permitir o suprassumo do hedonismo: queria provar o artigo mais caro existente de cada um dos seguintes artigos: cerveja, whisky, vinho, caviar, café, hambúrguer e pimenta.

 Ninguém nunca entendeu o porquê da pimenta estar na lista, mas o que Gerânio achava esquisito mesmo era como as pessoas se fixavam tanto na pimenta quando na verdade o esquisito mesmo era gastar uma fortuna com uma iguaria feita da merda de um felino. "Para evitar as lágrimas, se experimenta até merda com açúcar" pensou.

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