quinta-feira, 24 de julho de 2014

eterno insatisfeito

Gente, me mudei de novo pra cá - http://soucanhoto.wordpress.com/



Até.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Querido Tommy

Esse troço aqui é espetacular.

Paco, chileno de Santiago, escreve para Tommy Torres, cantor e compositor Portorriquenho, solicitando uma música, um conselho, aquela MÃO em suma, para conquistar uma chica. Explicado o BUSILIS e exposta a incredulidade de uma resposta, sai essa música aqui:


Como é fantástico quando a gente tem oportunidade de ver esse tipo de diálogo entre o artista e fã, ou até mesmo o APOIO MATERIAL E MORAL para que alguém como Paco consiga, enfim, dizer que está morrendo por ela porém de uma forma mais poética.

Aqui temos uma entrevista do Tommy contando sobre a composição

segunda-feira, 9 de junho de 2014

sete

Pegou um pedaço que dizia "E todos se riam, sem querer saber da sua alma pequenina, dos seus sonhos maltratados. Por isso, olhou sem pena para o campo que ia deixar. Calculou..."

Sentiu um aperto no peito.

Pegou uma calça dobrada na gaveta da cômoda. Mais um pedaço de papel "Sorrisos. Seus dentes são podres. A mão vermelha não é dele, mas do vizinho, um sujeito de bigode preto. Esse sujeito de big" o pedaço rasgado não concluía a palavra.

Lembrou que não entendeu A Náusea e não terminou Vozes Anoitecidas. Uma pena, queria ler de novo para entender e terminar para outro dia reler. Mas os livros, assim como toda sua biblioteca, ainda aparecem pelas gavetas em retalhos, entre as roupas em trechos indecifráveis, dentro dos tênis denunciando o dia em que ela descobrira a traição, sozinha em casa, com todo o tempo do mundo e toda a imaginação possível.

Pegou um par de meias "Pois o que amamos em nosso amor-próprio são os eus apropriados para serem amados. O que amamos é o estado, ou a esperança, de sermos a..." amassou o papel, suspirou.

Da cama, deitada, com um olho entreaberto, ela sorriu.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

um

Gerânio. Nome de flor. Quantos homens possuem nome de flor? Nunca soube dizer. Subia a Borges pensando em como debocharam dele na infância e em como sua noiva se apaixonou pelo nome. "Me apaixonei primeiro pelo nome, depois pelo homem" dizia. Vou pela escadaria ou por baixo? Decidiu ir por baixo. Entre os teatros, a Duque e a vista, preferiu a melancolia, o cheiro de urina e a paisagem triste do misto de tristeza e resignação de quem dorme por entre as lojas de miscelâneas.

Se sentia pequeno e media a tristeza com os dedos. Sua noiva lhe dera última oportunidade após descobrir uma traição. Não queria ter traído. Também não queria que ela tivesse descoberto. Ah, a internet, essa terra de ninguém, onde Gerânio floresceu de qualquer lugar após a dúvida ter sido plantada.

-

Gerânio acordou feliz, afinal. Dois meses se passaram desde o dia mais triste de sua vida. Com a vergonha enterrada bem fundo, não se via mais sinais de dor. Pensava em pedir sua noiva em casamento. Na verdade havia economizado para se permitir o suprassumo do hedonismo: queria provar o artigo mais caro existente de cada um dos seguintes artigos: cerveja, whisky, vinho, caviar, café, hambúrguer e pimenta.

 Ninguém nunca entendeu o porquê da pimenta estar na lista, mas o que Gerânio achava esquisito mesmo era como as pessoas se fixavam tanto na pimenta quando na verdade o esquisito mesmo era gastar uma fortuna com uma iguaria feita da merda de um felino. "Para evitar as lágrimas, se experimenta até merda com açúcar" pensou.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Coligay - entrevista e matéria

Fui entrevistado (não lembro exatamente quando) para colaborar e ajudar na construção do texto do Antônio Purcino sobre a Coligay. Fiquei surpreso e feliz ao ver que ele sabia muito da torcida, tinha conseguido contato com membros históricos (que eu já havia falhado em tentar contatar quando a ZH me procurou para matéria sobre a Grêmio Queer e a Queerlorado).

A matéria ganhou o prêmio realizado pelo Diretório Acadêmico da Comunicação da UFRGS e foi publicada no Jornal Tabaré. Vale a pena a leitura, foi um belíssimo trabalho de resgate histórico e uma sensível leitura sobre um grupo corajoso que enfrentou (mais) um espaço machista para escrever um belo marco na história do Grêmio.

A matéria pode ser lida aqui.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Palestra sobre estratégias de enfrentamento da violência de gênero contra mulheres e LGBT


Próxima quinta (22/05) eu e a Patrícia Becker, antiga colega de G8generalizando - porém atual colega-amiga-militante em pesquisas, debates e enfrentamentos de tudo que não presta (beijo Dep. Heize) estaremos na FMP debatendo sobre estratégias de enfrentamento da violência de gênero contra mulheres e LGBT, questão por demais sensível, pouco visibilizada e que aprendemos a trabalhar na marra, atuando na trincheira em uma época onde a doutrina e jurisprudência era bem mais escassa, a atuação nas matérias era praticamente inexistente e o judiciário estava se acostumando a dar algum tipo de voz para minorias.

A inscrição pode ser feita aqui.


quarta-feira, 9 de abril de 2014

sobre justiças

Como a prática acabou me mostrando, sexta não é um dia dos mais movimentados em um escritório de advocacia. E aquela sexta-feira 13 de 2008 estava bastante modorrenta, com um silêncio em que as moscas se constrangiam em zunir enquanto revisava um paper para a pós-graduação. A manhã terminava quando meu pai me chamou para almoçar, quando bateram na porta.

Creio que a expressão "bater na porta" é literal para 90% dos escritórios de advocacia no Brasil. A prática é diferente de outras profissões, as pessoas ainda procuram um escritório por placa no prédio, indicação da portaria, folhetos etc. E é por isso que abrimos a porta para o menino adolescente que ingressou no escritório quando terminávamos de conversar sobre algumas arestas de um processo que estava em cima da mesa.

Um caso como qualquer outro, uma demissão injusta, um patrão filha-da-puta com um cara pobre e humilde. Meu pai terminou a entrevista, fiquei na minha sala encerrando a revisão do bendito trabalho que deveria entregar naquela mesma noite. Saiu o menino, conversamos sobre a merda que é depender de empregador que explora moleque e depois sequer dá algum tipo de auxílio quando bate novamente na porta o menino, falando agora de uma pensão alimentícia que esqueceu de mencionar.

Estava entrevistando ele de pé, escorado na janela com uma garrafa d'água na mão, fazendo perguntas sobre o pai, onde trabalhava, estava registrado na identidade, era próximo, acompanhou a infância e adolescência, questões que são necessárias para humanizar uma entrevista robótica, além de ter elementos importantes para o caso. Foi quando ele sacou uma arma que eu ainda não tive o desprazer de ver maior.

As entrevistas eram um subterfúgio para que pudesse efetuar um roubo no nosso escritório. Havia acompanhado a rotina, identificou itens fáceis de colocar na sua surrada mochila e uma facilidade em sair sem ser identificado em um prédio de movimentação tranquila, pois bem, era uma sexta-feira e isso já foi explicado.

Não precisamos trocar muitas palavras, logo fomos colocados de cara para o chão e posteriormente amarrados, enquanto ele tinha livre acesso ao nosso escritório. Bens materiais foram levados, nossa dignidade ficou abalada, houve um certo trauma e uma dificuldade em encarar o trajeto até o trabalho por alguns bons dias, e bem, a certeza de que o ateísmo era uma convicção e uma certeza, pois eu e o pai do aniversariante do natal não encontramos aquele famoso canal de comunicação que muitos e muitas conseguem ter em momentos como esse.

Passaram-se quase seis anos. É tempo suficiente para poder colocar de maneira madura algumas conclusões acerca do fato, de maneira clara, limpa, consciente.

Peguei a sexta-feira 13 e transformei em um aniversário alternativo. É um dia que gosto de refletir sobre algumas coisas que cercam a minha vida, respirar fundo, analisar o mundo, o universo e tudo mais com olhos de novidade e beber. Bastante. Mesmo, muito. E é bom.

Também descobri que não sinto rancor. E fui obrigado a revisitar esse dia mentalmente depois que o Brasil começou a viver essa crise de Gotham, com justiceiros bradando por justiça, acorrentando pessoas pobres como meu algoz em postes, matando, justificando atitudes horríveis com uma alegação de legítima defesa.

Até onde eu sei o rapaz não foi preso, encontrado, não respondeu processo algum. E eu gostaria que ele respondesse. Gostaria que encontrasse um sistema que permitisse um olhar para o delito de uma maneira reflexiva e regenerativa. Mas não me importo com ele solto também. Utopicamente, gostaria que uma outra vida fosse permitida, que o roubo não fosse mais uma necessidade, ou uma opção de auferir qualquer tipo de vantagem econômica.

Também não quero passar por nada parecido, nem de longe. Tomamos algumas precauções no escritório e parecem eficazes.

Eu não ganho nada com a morte de alguém, absolutamente nada. Não sentiria prazer em saber que esse menino foi morto. Não me traria mais segurança, sentimento de vitória ou de justiça. Agora, se eu soubesse de uma regeneração, se eu ficasse sabendo que ele respondeu ao crime e foi ressocializado, eu me sentiria feliz.

Hoje não posso me sentir exatamente feliz com o resultado que tenho, mas me sinto com esperança, e alimento ela com esforços para que um dia o roubo seja uma opção com menos adesão e os presídios e abrigos tragam ressocialização e dignidade para quem errou. Sem sangue nas mãos, sem vingança, sem nenhum peso nas minhas costas.

Mas com sextas-feiras 13 mais alegres, abrindo a alma e o pulmão, analisando o mundo, o universo e tudo mais com olhos de novidade e bebendo. Bastante. Mesmo, muito. E é bom.

quinta-feira, 13 de março de 2014

em outra vida quero ser designer de camisa de futebol

Sempre sonhei com isso. Acho que pela paixão que eu tenho por colecionar (tenho umas 80 camisas de futebol, chutando raso).

Desde quando comecei a gostar de futebol, todo início de temporada me dava um frio na barriga esperando a nova camisa do Grêmio.

Isso me deu um know how meio oi-coleciono-selos em relação aos uniformes. Reconheço camisa pela temporada, sei identificar quando é camisa de jogo ou de loja, diferencio camisas usadas, conheço detalhes que fazem a diferença até em relação aos eventuais erros que podem tornar a camisa colecionável.

Todos esses parágrafos servem para, enfim, afirmar que eu domino do assunto e sei falar com alguma propriedade.

Segue então um top 10 de uniformes que eu gostaria de ter na coleção.

CALÇÕES ANOS 90 DO SANTOS

Cara, o Santos tem duas cores, preto e branco. Se não tem como fazer nada muito maluco, também não tem como errar, certo?

Mas eles conseguiram fazer uma linha de calções que deixam saudade.





UNIFORMES DO JORGE CAMPOS

Jorge Campos era um goleiro diferente. Sabia jogar com os pés, tanto que no Pumas do México alternava entre o gol e o ataque, terminando uma temporada com o mesmo número de gols que os atacantes do time. E as camisas... cara, as camisas eram fantásticas, do corte ao psicodelismo.






UNIFORMES DO JÉRÉMIE JANOT

Goleiro francês ainda na ativa. O que tem de louco na vestimenta tem de louco em campo, já fez defesa em amistoso contra o Barcelona defendendo uma falta do Ronaldinho com uma VOADORA.

Ah, e ele já entrou em campo com um uniforme de Homem-Aranha, incluindo MÁSCARA. Tirou a foto oficial assim.



Assim como o Lars Von Trier fez com "Ninfomaníaca", também achei por bem dividir em partes a postagem. Em outra oportunidade continuo a eletrizante lista de camisas para que vocês coloquem em uma eventual lista de presentes para me dar.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

sobre digressões, desatenções e invisibilidades

Tenho um defeito identificado faz muito por mim e que pessoas próximas bem conhecem, que é o de não conseguir prender a atenção.

É muito difícil, sabe. Presto atenção em uma linha de raciocínio e daqui a pouco um flash de ideia vem na mente, ou de repente uma borboleta bonita passa na minha frente, pode ser até que algum transeunte passe trajando uma histórica camisa colecionável de qualquer clube obscuro de futebol. Lá se foi minha atenção, restando a quem emite saliva no canto da boca, olhos turvos, sorriso de canto de boca ou simplesmente uma ideia atravessada sobre qualquer coisa desconexa ao comentado.

Isso não acontece só com emissor/a mas também quando estou sozinho comigo. Começo a ter uma ideia bacana que, costurando, amarrando e desenhando na cabeça já vira uma tentativa de lembrar o que diabos Yusuke Urameshi fez para ter que disputar um torneio no makai (ah vai procurar no teu saite de pesquisas favorito).

Eis que estava sentado em um bar, divagando sobre ações ou omissões que muito me doem no cotidiano quando passa por baixo da minha cadeira uma apressada barata, certamente ciente dos boatos que aquele teto que outrora estava sobre sua cabeça tende a perseguir sua nojenta porém inofensiva espécie até a inevitável morte. Passa apavorada por outros tetos tão ofensivos, porém mais desatentos quanto os que eu a apresentava, até chegar até uma sacola de lixo em que um menino negro, máximo de quatorze anos, revirava e "selecionava" plástico e alumínio em outra sacola.

Logo me veio um belíssimo texto falando do Bolsa Família e a indescritível liberdade que deu para inúmeras famílias pobres para que, enfim, saíssem de empregos miseráveis e beirando a escravidão para que pudessem optar pela dignidade.

Sim, a dignidade custa, e não somos donos dela.

Lembro de algumas casas da Dona Augusta, rua que faz minha morada por mais alguns meses, antiga região de chácaras, e seus atuais donos que, em 2014, querem "ajudar" pessoas pobres que transitam pela região com a oferta de capinar a calçada, cortar a grama, varrer o pátio, tudo por dez pilas.

- A gente até tenta ajudar, mas é vagabundo, não quer trabalhar, por isso tá no que tá - dizem. Pagar um valor digno pelo trabalho não faz sentido, afinal vai usar com porcaria.

Lembrei do menino de novo, "maloqueiro" como dizia na adolescência, exercendo com mais atenção que eu seu labor.

Me veio na cabeça que sua família pode ser beneficiária do Bolsa Família.

E me veio na cabeça o que algumas pessoas entrevistadas em consultas no escritório e em outros espaços que advogo comentam: a prefeitura força a barra para que saiam de sua comunidade, pois algo que vai beneficiar Porto Alegre acontecerá naquele espaço.

Enquanto um cardume de operários remove, terraplana, asfalta, faz sei mais lá o que em prol de sei lá qual Porto Alegre, um conflito entre uma política pública linda e uma maléfica aceleração de violação de direitos humanos escava uma sacola preta em busca de dois reais a mais.

 E tudo me parece tão desconexo quanto meu pensamento numa noite de calor imenso em que só queria me concentrar questões pessoais.


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

nosso tempo, drummond

Esse é tempo de partido, tempo de homens partidos.
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.
Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.
Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.
Primeira parte de NOSSO TEMPO - Carlos Drummond de Andrade.

Tudo leva que o nosso tempo de Drummond acaba sendo o nosso tempo meu. Que o tempo que passou segue passando, nunca chegando ao não passar.